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A Ponte Sumiu
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RESENHA

por Ananda Maria Maciel
Pedagoga formada pela UFSC
2012

Um curioso olhar crítico para o maior e mais famoso símbolo arquitetônico de Santa Catarina, com cadência jornalística e uma trama cheia de mistérios a serem desvendados. Esse é o enredo da narrativa. 

O texto é de autoria do jornalista Carlos Stegemann e foi ilustrado pelo também jornalista e chargista Zé Dassilva, numa excelente parceria. A Ponte Sumiu (2010) é uma obra do gênero de literatura juvenil, que envolve aventura, suspense e uma linguagem coloquial jovem muito movimentada. Seu viés é a preservação do patrimônio histórico, do legado social deixado pelas muitas vidas que contribuíram para a edificação não de uma ponte, mas do principal meio de conexão social e político entre a Ilha e o Continente, e que foi sendo relegado, socialmente, com o passar do tempo.

Enquanto estou a caminho de casa, através da janela do ônibus, consigo ver a bela Ponte Hercílio Luz, iluminada por luzes coloridas. E, então, mergulho nas preciosas páginas desta narrativa, e acompanho o ritmo acelerado da história e a impetuosidade da personagem adolescente.

Maria Vitória, a protagonista, conta os fatos da perspectiva de uma saudosa e competente professora de História, no ano de 2026. A partir da melancolia de seu olhar distante, perdido no tempo, o narrador apresenta aos leitores os estudantes no tempo de Maria Vica como aluna, na escola de ensino fundamental. A trama se passa começando com o envolvimento dela e dos colegas de classe em um projeto de pesquisa escolar sobre a Ponte Hercílio Luz – há tantos anos desativada, por causa da má vontade política, do desvio de verbas públicas, das promessas não cumpridas, do descaso e abandono da população. Tentando interpretar sonhos que juntavam fatos e pessoas de épocas distintas, e percorrendo caminhos de pesquisa científica, a curiosidade da menina nos alerta para a provável perda, no futuro, desse patrimônio tão importante. 

As personagens do enredo desfilam, nos dias de hoje, pelas ruas de Florianópolis, por instituições, como o centenário Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, a UFSC, a Praça da Luz, a Biblioteca Pública Estadual, a Avenida Mauro Ramos... Nada é esquecido! 

Para avivar a memória coletiva da cidade sobre a história do “fetiche ilhéu”, o monumento que é o cartão postal da turística Ilha da Magia, foi preciso recorrer a mais do que fontes históricas e fatos reais – a memória se faz presente quando sonhamos, quando usamos as mãos para criar, quando lemos livros, quando sentimos os ecos do passado através da conversa com aqueles que fizeram parte dele. Ao mesmo tempo em que o autor traz o passado para o presente, personificado na figura misteriosa do jornalista, ele busca, no presente, a cumplicidade da nova geração, para assegurar o reconhecimento e a valorização desta veneranda senhora – a Ponte Hercílio Luz, inaugurada há mais de 80 anos. 

Passado e presente caminham juntos, de mãos dadas. Como as intrincadas teias de aço que não permitiram, ainda, àquele belo marco histórico cair, a memória humana vai sendo tecida com o legado de muitas vidas, escrita com as tintas de muitas almas, com o suor do trabalho de muitos braços, os milhares de pés que percorrem o caminho da humanidade – e que fazem parte de cada um e do todo coletivo, do que somos, do que aprendemos com as experiências vividas, do que nos tornaremos. Faço eco ao autor, na voz de Maria Vica: a Ponte não pode sumir, não pode ser esquecida. Ela deve permanecer lá, erguida como um marco de esperança para os nossos filhos e os filhos de nossos filhos.

Alço os olhos, por um momento esquecidos na minha leitura, para aquele que é o meu caminho preferido dentre todos os lugares no mundo: a visão do mar esplêndido e sereno, as embarcações ancoradas, o Forte de Sant’Anna e a Ponte. Visão secular e histórica de um sonho coletivo, que se materializa, mas que também se torna trivial e corriqueiro e quase some diante de olhos apressados. Ela ainda está lá, linda, forte, iluminada e não restaurada. Ainda persiste, apesar do descaso. Mas, até quando? 


STEGEMANN, Carlos. A Ponte Sumiu. Il. Zé Dassilva. Florianópolis: PalavraCom, 2010. 122 p. 


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