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Boi Malhado, boi dobrado
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RESENHA

Por Eliane Debus
Professora MEN/CED UFSC
2020

Boi Malhado, boi dobrado, de Sig  Schaitel com ilustrações de Luciana Bicalho e projeto gráfico de Tina Merz, foi publicado em 2019 pelo Fundo Municipal de Cultura de Florianópolis, e seus 2000 exemplares distribuídos entre os leitores das instituições de Educação Infantil da Rede Municipal de Educação do mesmo município.

O livro em tela é um daqueles artefatos culturais que por certo mexe com os protocolos de leitura e desconstroem a ideia de linearidade do aspecto físico do livro. Sua estrutura física, aparentemente, tem 15 cm de altura e 10 cm de largura, o que num primeiro momento demarca a característica de atender as mãos pequenas do leitor da pequena infância. A surpresa do objeto se efetiva ao abri-lo, pois ele cresce e se estende em 90 cm de largura, consolidando-se num livro sanfona.

Caracterizado como livro sanfona, ele é confeccionado por nove dobras, resultando em 18 páginas, pois, mesmo não sendo necessário, o livro será lido dos dois lados. De um lado, denominado por nós de lado A, o leitor encontra texto em prosa poética estruturado em 11 estrofes que narram a história do Boi-de-Mamão, ou melhor, do folguedo e de seus integrantes, deixando por último a presença da personagem Bernunça como ponto de interrogação.  O que leva o leitor a procurá-la e descobrir a sua presença  ao longo da narrativa, em cada pedaço de dobra, sobreposta ao texto. No lado B, composto somente de ilustrações o folguedo vais se desenhando com suas ações e personagens.

O criativo projeto gráfico-editorial se constitui numa grata brincadeira e que dialoga com os títulos que tem se destacado com efusão nos últimos 10 anos no Brasil e demarcando um novo olhar para a produção para infância: o livro em sua constituição de objeto. Como destacado em texto anterior (DEBUS, 2018)

estamos falando de livros que na sua construção estética são eivados de ludicidade e exigem do leitor um dar-se ao objeto, mover partes desdobráveis, ocultas, como se segredos houvesse a cada virar de páginas e fossem revelados pelas mãos, ler  pelos sentidos!!! Leitor e livro se integram e se interagem, transformando os protocolos de leitura (...) (p. 393)

  A experiência com a elaboração de livros que guardam segredos em sua estrutura material, verbal e visual, já havia sido realizada por Sig Schaitel em Livro de brinquedo (2016). Livro recheado também de surpresas. “Livros que explodem aos olhos do leitor, esses novos livros novos, permitem, além de também novos modos de ler, uma ampliação generosa nas experiências estéticas, são puras obras de arte” (DEBUS; SPENGLER, 2019, p.128 ).

  Que o mercado editorial amplie este fazer e que possamos encontrar na produção literária para infância em Santa Catarina mais livros brincantes.

REFERÊNCIAS

DEBUS, Eliane. Do livro artesanal Casa de papel, de Glaucia de Souza, ao livro industrial Avoada, de Marilia Pirillo: casas para morar e brincar. Revista Contrapontos. Vol. 19, n. 4. Itajaí.,jul-dez 2018.

DEBUS, Eliane; SPENGLER. Maria Laura P.  Livros que se (des)dobram em (outras) leituras: para além do texto em GONZALEZ, Isabel Mociño. (Org.). Libro-obxecto e xénero: estudos ao redor do libro infantil como artefacto. Espanha/ Vigo: Unión Editorales Universitárias Espñolas, 2019.p. 119-130.

SHAITEL, Sig. Boi malhado, boi dobrado. Il. Luciana Bicalho. Florianópolis: Cia Mafagafos, 2019.


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