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Carolina e as bolinhas de gude
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RESENHA

Por Lilane Maria de Moura Chagas
Professora do MEN/CEDUFSC
Membro dos grupos de Pesquisa NEPALP, GEPOC e LITERALISE (UFSC)
2013


O livro Carolina e as bolinhas de gude escrito a quatro mãos por Ana Carolina Ostetto e seu pai, Lenoir Ostetto, e ilustrado pela própria autora (a ilustração feita com giz de cera e colagem de papéis coloridos) é o resultado da disciplina Literatura e Infância, do Curso de Pedagogia da UFSC, ministrada pela professora Eliane Debus. Literatura e Infância é uma disciplina que convida os estudantes a produzirem um livro artesanal.

Carolina e as bolinhas de gude é uma narrativa contemporânea que traz, de forma singela, a memória das histórias de infância do pai da protagonista. Ele, por ser contador de histórias e por ser um grande jogador de bolinhas de gude, é provocado por sua filha a contar como se joga com essas bolinhas que “São tão lindas, brilhantes e coloridas. Grandes e pequeninas, de vidro, metal, madeira ou aço… E algumas até se parecem com diamante!” (p.6). Nas primeiras páginas, o leitor é convidado por essa descrição de bolinhas tão chamativas, representadas pela ilustração e pela descrição.

Outra atração para a aquisição do livro é que ele vem acompanhado de algumas bolinhas de gude, estreitando, assim, a relação das crianças com o livro e estimulando a brincadeira na prática, possibilitando a efetiva participação das crianças. 

Ao folhear o livro, o leitor encontra as diversas formas pelas quais essas bolinhas, que parecem mágicas, são nomeadas - “baleba, biloca, birosca, bolita, bugalho” (p.7). Esse é outro recurso lúdico que a autora se utiliza para brincar também com a linguagem verbal.

Na sequência da narrativa, o diálogo entre pai e filha acontece sobre brinquedos e brincadeiras da infância de seu pai: jogar futebol; pião; nadar; pescar e a brincadeira preferida - bolinha de gude! 

O convite do pai à filha acontece. E o que poderia ser uma história num jardim de uma pequena cidade chamada de Nova Veneza, ganha uma nova dimensão: outros ouvidos, outros olhos e uma escuta atenta de todos os leitores dessa história! E, a partir desse momento mágico, o livro tece a memória de infância desse jogador de bolinhas de gude.

Durante a leitura é revelado o resgate de uma brincadeira, típica de uma geração anterior a de Ana Carolina. Com essa história, contada com nostalgia, o leitor vai percebendo que as brincadeiras de infância têm implícitas questões de gênero e poder. Sendo assim, o leitor adulto, atento pode indagar a forma como as brincadeiras na infância revelam diferenças de gênero - brincadeiras de meninos e brincadeiras de meninas - problematizando o próprio caráter das brincadeiras de crianças na contemporaneidade. Do mesmo modo, pode-se indagar sobre a forma como as categorias infância, gênero, etnia e classe são acionadas no interior dos discursos dos adultos, que reforçam diferenças que produzem preconceitos e exclusão. É um livro que pode provocar esse e muitos outros debates e reflexões sobre o modo como normatizações de gênero e de infância são figuradas e problematizadas pelos leitores das diversas áreas de conhecimento. Mas, sobretudo, é um livro para todas as crianças de diferentes idades que querem conhecer a história e, ainda, aprender a jogar bolinhas de gude.

Além disso, o livro tem aspecto do texto instrucional,  orientando de forma prática os que desejam brincar de bolinhas de gude (jogar na forma triangular) com as regras que são implícitas – quase um manual de instruções de como jogar bolinhas de gude -, e ainda de outras maneiras como o pai lhe revela que seja possível se divertir: “existem muitas maneiras de brincar de bolinha de gude como a “boca”, a “bússola”, “o círculo”, “a queimada”, dentre outros” (p. 22).

A história finaliza com o pedido da filha ao pai de que seja ensinada essa brincadeira para seus colegas da escola. Assim, a história provoca o pensar em muitas outras formas de apropriação pelas crianças dessa forma de brincar e dos sentidos e significados atribuídos às relações e às brincadeiras de hoje.

O livro é colorido, alegre e faz os olhos dos leitores de todas as gerações brilharem com as bolinhas de gude confeccionadas pela autora.

OSTETTO, Ana Carolina; OSTETTO, Lenoir Cristiano. Carolina e as bolinhas de Gude. Il. Ana Carolina Ostetto. Florianópolis: Terceiro Milênio, 2013. 26p.


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