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É cada figura que me aparece
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RESENHA

Por Rosilene de Fátima Koscianski da Silveira
Doutora em Educação – PPGE/UFSC
2020

É cada figura que me aparece, livro de Marinaldo de Silva e Silva, foi publicado em 2018, pela Nova Letra, editora de Blumenau, SC.  Sua materialidade física é caracterizada pelo formato retangular, com medida de 23 x 15 cm, apresentada na posição retrato, com capa colorida e impressa em alto brilho. O miolo conta com 94 páginas editadas e impressas em papel couché.  A primeira orelha traz um breve texto de Thaís Iolanda Sant’Ana Siedschiag destacando que o autor “contextualiza o cotidiano escolar aos meios digitais do mundo moderno” (SIEDSCHIAG, 2018, s.p.). a segunda orelha apresenta a foto e a biografia do autor. A folha de rosto traz apenas o título.  A contracapa, além de destacar as intenções do livro, informa o patrocínio da Prefeitura Municipal de Joinville para a sua publicação, por meio do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura.

 Esse livro foi ilustrado por Rafael Role e prefaciado por Rita de Cássia Alves. A narrativa está organizada em 22 (mini) capítulos, em formato de crônicas que tratam das figuras de linguagem. As crônicas são narrativas e reflexivas, apresentam uma linguagem leve, marcada pela coloquialidade, e com palavras que buscam identificar e/ou personalizar o/a narrador/a, especialmente porque são vários. O espaço da narrativa é um diário no modelo virtual, um diário diferente, que é também um blog compartilhado pela turma. Assim, Danuza, Ivan, Paulo, Abgail, Amanda, Eriberto, Doroteia e demais jovens que compõe aquela turma que reprovou em Português no ano passado e prometeu que neste ano que as coisas seriam diferentes, alimentam o blog com suas escritas exageradas, redundantes e controversas. 

O fictício blog “é aberto, então, todo mundo posta e compartilha. A ideia é essa, pelo menos. A única proibição é não usar o espaço para compartilhar imagens de violência e desabafos preconceituosos” (SILVA, 2018, p. 11). Uma regra que talvez não tenha sido seguida à risca por Abgail, ao descrever uma das suas colegas: “Danusa é minha amiga e tudo mais, mas, é quase uma porta! Linda, porém...Deixa pra lá.” (SILVA, 2018, p.49). A frase incompleta da narradora não estaria impregnada de preconceitos?

. Os textos reproduzem o pensamento “em voz alta” da turma. Assim, os narradores entram no blog e fazem seus registros que, além de conceituar as figuras de linguagem, exemplificam-na, contextualizando com eventos do seu cotidiano, fazem o exercício autoral em vários estilos, acentuando nas tintas da ironia, da desconfiança e da transgressão. Trago aqui o exemplo da Doroteia, ela faz um aviso aos colegas em meio a sua escrita do texto intitulado A comparação: “Preciso escrever pra vocês as loucuras que a Orientadora está preparando para amanhã, nesse nosso blog secreto: assim a gente fica antenado (sic). Esse recado é ultra-urgente, movido a muito stress [...] A doida vai convidar vocês, e eu, para o maior mico do ano: Levar a bandeira da escola no desfile de aniversário da cidade! ” (SILVA, 2018, p.37)

As figuras de linguagem citadas pela turma no blog são articuladas conceitualmente de modo diversificado e buscando o diálogo com o adolescente, com o jovem. Apóstrofe, além de ser o nome do cachorro da Abgail, “é esse lance que eu aqui, é toda vez que vez que o narrador, nesse caso eu, Abgail, fala diretamente com o leitor, ou com alguém ausente” (SILVA, 2018, p.30). Algumas vezes as crônicas podem assumir o tom aconselhador compartilhando experiências pessoais e alertando para os perigos que os adolescentes e jovens podem correr, como por exemplo “o caso do Choquito, do sétimo ano. Caiu no golpe do amigo virtual, mais velho, bacanudo, que ofereceu o carro dele, o carro dele cara! [...] o fato é que o Choquito, acabou em troca tirando umas fotos indecentes, foi enganado tadinho [...]” (SILVA, 2018, p.46). A história da Dolce Dulce também passa pelo diálogo com seu público acerca dos valores morais e dos bons costumes. Além destas questões, as escritas juvenis expressam um apelo explicito à intenção de ensinar conteúdo e, nesse sentido, buscam criar personagens que representariam o jeito de ser, pensar, agir e falar do adolescente e do jovem na sua relação com uma turma escolar, isso do ponto de vista do adulto. 

A intencionalidade pedagógica é bastante clara em É cada figura que me aparece e, desta forma, os paratextos assumem funções importantes no livro. Um deles está colocado nas páginas finais, conceitua as 22 figuras de linguagem apresentadas, exemplificando-as. Outro paratexto, intitulado “O finalmente”, faz convite à interatividade e a coautoria, instigando o leitor a escrever um final para a história “sem esquecer que os textos foram escritos como se estivéssemos lendo o texto num Blog da Internet [...]) (SILVA, 2018, p. 85). Como o livro se propõe a cuidar do aprendizado acadêmico dos estudantes, em especial no campo da Língua Portuguesa, para a segunda edição sugiro uma revisão cuidadosa. É cada figura que me aparece deixa entrever sua intenção de dialogar com o público adolescentes e jovens, incentivando a produção escrita e propondo estratégias para que o aprendizado da língua, em especial, o aprendizado das figuras de linguagem, possa ocorrer de modo reflexivo, contextualizado e divertido.

Referências

SILVA, Marinaldo de Silva e. É cada figura que aparece. Il.: Rafael Role. Blumenau: Nova Letra, 2018.


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