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Gritos e sussurros urbanos
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RESENHA

Por Zâmbia Osório
Doutoranda em Educação – PPGE/UFSC
2020

Gritos e sussurros urbanos,escrito por Luiz Alberto Pereira e publicado pela editora Nova Letra, é uma antologia com um cenário comum, o espaço escolar. São contos ficcionais que misturam as experiências do autor como estudante e como observador, na função de professor. São 12 contos que foram publicados independentemente no jornal Expressão Universitária, no ano de 2014, e que, introduzidas outras histórias, ganha forma de livro. Conflitos e situações desmotivadoras misturam-se com esperança, que transborda do olhar dos jovens que constroem sua própria história. “Dia de João” traz a história de um estudante que está em seu primeiro ano escolar. No texto, narrado na primeira pessoa, acompanhamos o choque cultural entre a vida em casa e a vida na escola. Pelos olhos de João, estranhamos situações que se tornaram corriqueiras nos pátios e salas de escolas. “A vez de Carlos” apresenta um adolescente de 14 anos, Carlos, irmão mais velho de João. Agora, temos outra perspectiva sobre o cotidiano escolar relatado em “Dia de João”. Se na história anterior havia o estranhamento, aqui conhecemos as estratégias criadas para lidar com as situações escolares, os inúmeros desenhos feitos no caderno para matar o tédio, a ansiosa espera pelo final de semana e as cabulações de aula.

 Em Carlos, percebemos como crescer significa abrir mão do carinho e a atenção que agora somente João obtém. Ana Clara não performa feminilidade como é esperado por sua família e pelo corpo escolar, e esse conflito é o que conduz “O espelho”, orientadora escola, psicólogo e todo um aparato é montado buscando solucionar  o aparente problema, mas o que de fato não é feito é ouvir Ana Clara. Juan, filho adolescente de uma família religiosa, compõe o conto “Devoção”.  Diferente de Ana Clara, é na escola onde Juan se sente livre para ser quem realmente é, sem se preocupar com a opinião alheia. Embora não se ache tão religioso assim, em uma fuga do culto para ir jogar com os colegas, têm a possibilidade de ajudar um amigo por meio de sua fé. O texto intitulado “Gentileza” apresenta André, estudante repetente, que está em um conflito interno e encontra em um professor a possibilidade de diálogo. Mas existem coisas que só podemos decidir sozinhos. “Fallin” é dedicada à Laura, suas tranças nagô, seus gostos por literatura e a paixão por Dalton. Conhecemos mais desse universo em “Laura e Dalton” e mergulhamos profundamente na vida de Dalton em “Aceitação”, onde a face da violência se apresenta, e a crença de que o tempo pode apagar memórias ruins. “Treze anos”, “O príncipe dos observadores”, “Pulsação”, “Hora da verdade”, novas personagens e os que conhecemos em contos anterior se distanciam, se encontram e fazem a esperança transbordar pelas páginas. Gritos e sussurros urbanos não é um livro sobre escola, é sobre as vozes de crianças e jovens, sobre as muitas formas de vive-la e sobre poder se enxergar no mundo, ou neste caso, nas páginas do livro.

REFERÊNCIA

PEREIRA, Luiz Alberto. Gritos e sussurros urbanos. Il.: Fernando Lourenço. Blumenau: Nova Letra, 2018. 


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