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Os Interamigos e o Terrível Thânatus
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RESENHA

Por Lauro Junkes
Doutor em Teoria da Literatura (PUCRS)
Professor Titular da UFSC, tendo atuado no Curso de Letras e no Programa de Pós-Graduação em Literatura, até 2010, quando do seu falecimento.

Os Interamigos e o Terrível Thânatus (Florianópolis:Editora Cidade Futura, 2003). Um esclarecimento inicial afirma que “esta é uma história diferente. É diferente porque ainda não aconteceu”. Arma-se, dessa forma, de imediato, a curiosidade do pequeno leitor para desvendar que mistério “diferente” irá acontecer. E muito ponderadamente vão sendo apresentados três universos que interagirão, envolvendo os antogonismos de amigos/auxiliares, de uma parte, e de vilões/opositores, de outra. Como a história destina-se a crianças do nosso planeta, privilegia-se, neste, um grupo de crianças “normais”, ligadas ao “Clube da Árvore do Saber”, que de repente “se tornaram crianças especiais, com poderes inimagináveis”. Todos os leitores quererão pertencer a tal Clube e tornar-se cada um especial, pelo que a história cria condições de processar-se a identificação do leitor com a personagem.

Como essas crianças cultivam boas qualidades e ações – “gostam de ler, de brincar e já nse preocupam em defender a paz entre os povos e proteger a natureza” (uma dose de sabia moralidade)-, ao se tornarem “especiais”, passam a constituir, sempre que em conjunto de três delas, os “InterAmigos”, por intervenção benéfica e protetora do “mundo de Cônatus, onde moram Cosmus e Valentina, Mestres Contadores de Histórias, o Pimpolho e outros seres mágicos”.

Tal intervenção benéfica acontece no sentido de prevenir e fortalecer as “boas crianças” conta o “mundo de Thânatus e sua trupe do Mal-Extremo”. Se, “no Mundo de Cônatus, a vida, a sabedoria, as virtudes e a memória da humanidade estão protegidas”, o vilão Thânatus tem missão destruidora: “quer dominar as forças da alegria e da paz e acabar com o que existe de sabedoria no Mundo dos Humanos”.

Aos poucos, a narrativa delineia claramente protagonistas da ação – o papel central caberá adequadamente, às crianças da terra: Nico, Flora, Anahis, Bertinho, Diana e Arthur, com quem se identificarão os leitores; os antagonistas: Thânatus e sua Trupe do Mal-Extremo, com os terríveis Ácurus e Amnésia, armados do terrível poder de devorar livros, destruir as palavras bonitas, roubar informações e “fazer as crianças esquecerem todas palavras importantes e os números também”. O entrechoque dessas forças armará todo o conflito, elemento fundamental para embasar o interesse e a vitalidade em qualquer história. Entretanto, para proteger as crianças, congregadas em interAmigos, diante das ameaças cósmicas e de reinos superiores, contam elas com o Mundo de Cônatus: Pimpolho e os Mestres Contadores de História, Cosmus e Valentina, representando as positivas energias auxiliares e protetoras. Armados e ingredientes... a guerra tem início... que tal o ardil de deixar as crianças com muito dinheiro num shopping, para desviar as crianças do Clube da Árvore do Saber Afinal, guerra... é guerra!...

Com belas ilustrações de Hatsi Rio Apa, em cores e ótimo papel, a narrativa, logicamente, apresenta seções narradas, com clara intervenção do narrador, porém sabe armar episódios de forte caráter dramático, provocando verdadeiro envolvimento do leitor, quando predomina o diálogo vivo e as personagens diretamente em atividade. Adequadamente, no confronto pessoal entre crianças e a monstruosa gangue de Thânatus, não serão sempre as “boas” crianças que levam a melhor, como não será fácil desmascarar os ardis de Thânatus. Afinal de contas, ele veio armado de saber para enfrentas duelos de conhecimento com tática de huerilha nem sempre limpa”... – “infelizmente, Thânatus foi ganhando a parada. Ele foi-se apropriando da memória e da criatividade de Nico e da Flora...” Intensifica-se o volume do conflito com a ameaça de mandas as crianças de castigo para o “livro do terror”. No clímax do conflito, oprém as crianças recorrem ao trunfo de se tornarem “interAmigos”, servindo-se da palavra senha, para fazerem emanarem-se “os poderes do afeto e do intelecto”.

Ressalta-se, outrossim, que os autores projetam no texto frequentes referências intertextuais, remetendo os leitores para outros tantos textos e personagens que povoam as lembranças dos pequenos leitores, ou então despertando e motivando-os para a leitura de tais livros: João e Maria, Capitão Gancho, Alice no País das Maravilhas, Terra do Nunca, Peter Pan, Ilha do Tesouro, Emília, Narizinho e Pedrinho do Sítio do Picapau Amarelo e até Harry Potter.

Alertem-se, porém, os autores para os momentos em que recorrem à escrita fonética, reduplicando longamente algumas vogais. Não faz sentido duplicar vogais naturalmente átonas, não acentuadas. A vogal duplicada se tornará automaticamente tônica, porque a manutenção da vogal provocará sua acentuação. Então, como entender palavras como irriiiiiitado- leeeeeem...brar – aguuuuuuuuuuento? Não se pronuncia irritado, nem lémbrar, nem agúento. Numa frase, a primeira palavra está logicamente representada, mas não a segunda: ela tiiiiinha viaaaaaaaajado. Descontado esse lapso, que não convém passar às crianças, a narrativa merece atenção e constituirá proveitosa leitura. 

JUNKES, Terezinha Kuhn (Org.).  A literatura infantojuvenil catarinense na perspectiva de Lauro Junkes. Florianópolis: Copiart, 2012. P. 87-90. 


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