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Para fazer um livro de alfabetos e aniversários
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RESENHA

Por Chirley Domingues
Professora Unisul
Por Eliane Debus
Professora MEN/CED UFSC
2020

Para fazer um livro de alfabetos e aniversários, de Gertude Stein, traduzido por Dirce Waltrick e Luci Collin, se apresenta, desde o título, como um livro diferente, desafiador e, porque não, irreverente. Ao se deparar com o título, o leitor pode ser levado a imaginar que tem em mãos um manual de escrita. Tal expectativa se amplia na apresentação do livro, reforçada pela ideia de que “Com alfabetos e nomes se pode brincar e sempre se tem um nome e todo nome tem é claro também um aniversário a festejar”. A partir desse momento, porém, o leitor já pode perceber que a proposta da obra não é ser um manual. O que se apresenta é um livro que brinca com a linguagem, rompe com a mesmice de uma escrita que tem início, meio e fim e abandona o uso padrão da pontuação. Ou seja, como define Douglas Diegues, na edição brasileira, trata-se de “um livro escrito para crianças de maneira bem diferente de como eram escritos os livros para as crianças”. (DIEGUES, 2017, s.p.).

A criatividade da escritora americana, no entanto, não se resume à linguagem. Ela se revela, sobretudo, no enredo, uma vez que as letras, obedecendo a sequência do alfabeto, além de estarem nas inicias dos personagens de cada um dos contos, ganham sentimentos, emoções e qualidades. Dessa forma, o D não se resume às inicias de Dileta e Dodó, ele se incomoda em vir depois do C e diz palavras feitas para E, “não fique me perseguindo, chega de pega-pega E, me deixe em paz”. (STEIN, 2017, p. 22). J, por sua vez, é justo. M e N são azarados porque ocupam a 13ª posição no alfabeto, que tem 26 letras. Eles são letras tristes e “eles não podiam mesmo ser felizes e claro que foi porque aquele alfabeto em vez de ter vinte e oito letras deu um jeito e ficou com vinte e seis e a metade de vinte e seis é treze” [...]. (STEIN, 2017, p. 58). P é engraçado, assim como o X, que além de engraçado é difícil e bobo. R e S são cheios de ternura e U V W e Y são letras inúteis, assim como o X e o Z. Estes dois, no entanto têm suas qualidades. O X é difícil e o Z é uma letra bacana, “é o máximo”.  (STEIN, 2017, p. 130).

Ao final da leitura de Para fazer um livro de alfabetos e aniversários, fica a sensação de que ler também pode ser uma grande aventura, sobretudo quando nos permitirmos ir além das leituras que convencionalmente nos são impostas.

No que diz respeito ao exercício tradutório e das escolhas na construção da concretude do livro feitas por Dirce Waltrick do Amarante e Luci Collin, muitas são as escolhas. Primeiro, as tradutoras escolhem fotografias ambientadas na primeira metade do século XX, para ilustrar o texto e situar o leitor no período em que Stein produziu o livro em tela. Os posfácios, com textos das duas tradutoras, nos elucidam os desafios travados no trabalho e ao mesmo tempo a diversão de sua realização.

Aqui, habita a importância da publicização dessa publicação, ao trazer à cena o exercício do tradutor, nesse caso das tradutoras, e que sem ele não poderíamos ter acesso ao livro Para fazer um livro de alfabetos e aniversários, de Gertrude Stein. Livro brincante, livro brinquedo, livro para brincar.

REFERÊNCIA

STEIN, Gertrude. Para fazer um livro de alfabetos e aniversários. Tradução e Posfácio de Dirce Waltrick do Amarante, Luci Collin. São Paulo: Iluminuras, 2017. 


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