por Eliane Debus
Professora MEN/PPGE/CED –UFSC
2012
Em As muletas do governador, Airo Zamoner constrói uma narrativa na qual o foco se volta para a denúncia dos possíveis resultados de se deixar dominar pelo discurso dos poderosos e do senso comum.
Diz o ditado que “em terra de cego quem tem um olho é rei”, no entanto, em Mankolândia, país dos mancos, quem caminha ereto é um problema que deve ser solucionado. Os habitantes desse local surreal tem como artefato imprescindível a muleta, objeto que é comprado assim que cada criança completa alguns meses de vida. Desse modo, ao iniciar os primeiros passos já principia a mancar.
Essa ordem/farsa, porém, é rompida quando Mankito não se adapta às muletas e cresce sem mancar, questionando sobre o porquê de todos mancarem, sobre o uso da muleta e sobre onde elas eram compradas.
A voz do menino faz com que o seu pai comece a desconfiar do seu próprio mancar e descobre que tudo não passava de um grande engodo - ninguém era manco, mas assim pensava que o era. Quem saía ganhando era o governador, dono da fábrica de muletas. O povo se rebela e, conjuntamente, acabam com os desmandos do político.
O final da narrativa, no entanto, se anuncia como um alerta, pois outro governo se instala e começa a divulgar os benefícios de raspar todo o cabelo, criando anos mais tarde uma nova necessidade: a peruca, em um país que não se chamava Mankolândia, mas Perukópolis.
ZAMONER, Airo. As muletas do governador. ed. 9. Curitiba: Protexto, 2004. 28p.
AUTORES
- Airo Zamoner (Escritor)