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Não-me-toque em Pé de Guerra
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RESENHA

por Daniela Bunn
Doutora em Literatura - UFSC
2012

Não-me-Toque em Pé de Guerra, de Werner Zotz, é um título muito pitoresco e curioso que nos faz refletir sobre o desenrolar da história. O que esperar de uma narrativa com esse título e com um começo todo assim: 

A pouca terra que ainda segurava as raízes da figueira ia se esborroando aos poucos. De maneira sofrida, como se quisesse usar as últimas forças pra garantir um resto de vida à árvore. (ZOTZ, 2006, p. 7)

É desta forma que entramos na narrativa: esborroando. O autor, como a água turbulenta, vai arrancando a terra debaixo de nossos pés e, na feroz correnteza da escrita, leva-nos para o pequeno mundo de Não-me-Toque. Como a velha e assombrada figueira ficamos também com nossas raízes à mostra. 

Aos poucos descobrimos que Não-me-Toque é uma tranquila e pequena cidade que, como toda pequena cidade, tem personagens peculiares, com apelidos únicos. Quem tem raiz em cidade pequenininha sabe disto: às vezes conhecemos a pessoa a vida toda e não sabemos seu nome. São apelidos engraçados, estranhos, de nome de bicho, de parte do corpo. Em Não-me-Toque também é assim: é Tubarão e Siri pra cá, Duas Braças, Sim-Sim e Gangorra pra lá. Não-me-Toque também tem suas crenças, seus contos de assombração, seus tesouros escondidos e seus causos de pescador. 

Chuva, lama, lodo, corrente e correnteza dão início a uma narrativa com histórias cruzadas. O mistério do monstro intercala-se com a troca de cartas entre pai e filho, na passagem de um momento histórico de nosso país. O pai, um jornalista exilado na França, envia cartas ao filho e à esposa que se refugiaram na casa do avô. 

A pacata cidade depara-se com um monstro que atormenta, principalmente, os políticos. Boatos, fofocas, brigas políticas, jornalistas curiosos, comunismo e histórias de pescadores - todos os ingredientes necessários para deixar os não-me-toquenses com a pulga atrás da orelha. 

O rio, que desempenha uma importante função na narrativa, pois é o lugar das dúvidas e incertezas sobre o monstro, é também um refúgio para solidão de Pedro que  procura suprir a falta do pai. Depois de tanta investigação, é a sabedoria do avô que faz com que Pedro, corajosamente, desvende o mistério sobre o monstro. Monstro que já havia atacado dois pescadores e um casal de branquelos daqueles que “só tinha[m] visto sol em filme ou revista de turismo.” (ZOTZ, 2006, p. 52)

Onde a figueira entra nisso tudo? Aí está o mistério que o leitor acompanha, na angústia de saber e não poder contar nadinha aos personagens. Entre neste barco, viaje nas aquarelas de Diego Rayck e descubra porque Não-me-Toque entrou, afinal, em pé de guerra. 

O livro, que já está na 13ª edição, foi publicado, originalmente, em 1982, e  apresenta uma linguagem simples, prazerosa e sensível, com uma sátira bem marcada ao sistema político e social. Não-me-Toque em Pé de Guerra recebeu, em 1985, o selo Altamente Recomendável para Jovens, conferido pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.


ZOTZ, Werner. Não-me-Toque em pé de guerra. 13a. ed. rev. atual. Il. Diego Rayck. Florianópolis: Letras Brasileiras, 2006. 72 p. 


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