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O Desencontro dos Canibais
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RESENHA

Por Arlyse Silva Ditter
Professora de Língua Portuguesa do Colégio de Aplicação – UFSC
2017

Às vezes, o momento histórico coloca a Humanidade frente a seguinte pergunta: o que se pode criar daqui para diante? Talvez vivamos esse tempo. Artisticamente já criamos tudo, já explicamos o mundo de várias formas e em várias linguagens. Já sabemos que somos seres hibridizados, culturalmente e economicamente. Fundimo-nos. É o tal resultado do processo conceituado como globalização? Do ponto de vista humano, esse momento histórico manteve a solidão da autodescoberta e, devido aos índices de depressão divulgados pela mídia, alargou a permanência nesse triste estado psicoemocional.

Pois bem, Sérgio Medeiros utiliza-se do realismo fantástico para tentar criar o novo, e o faz quase com cores surrealistas, também resgatando o universo mítico das narrativas indígenas. Em O Desencontro dos Canibais, ele aborda esse momento histórico – o da globalização/solidão – e o faz a partir da metáfora modernista da antropofagia. Suas quase 100 páginas são apresentadas como contos independentes, no entanto, formam uma unidade que poderiam muito bem ser enquadradas como uma novel.

Os personagens que fazem essa costura, essa unidade, entre os 11 contos da obra são nomeados como o Canibalzinho e a Canibalzinha. Cada um deles, recebe três capítulos intitulados O Canibalzinho só e A Canibalzinha só. Cada qual com seu o crescimento dentro de uma natureza antropofágica. Eles se autoconhecem a partir do contato com os outros personagens: plantas, a Terra, o céu. Eles “devoram” tudo o que encontram e isso tudo passa a fazer parte deles.

Assim, em capítulos que podemos nos identificar com passagens pela infância, pela adolescência e fase adulta, eles chegam a se conhecer. Mas será que irão se encontrar? Quais seriam os impedimentos? Por que essa Humanidade não se encontra?

A linguagem é poética, o que remete a raiz do autor. Sergio Medeiros nasceu poeta. E nessa obra a densidade do uso dessa linguagem pode, por muitas vezes tornar o livro hermético. No entanto, lembremos que a poesia é aquele gênero que nos pede e nos permite mais do que uma leitura. Está aí, o grande mérito da obra. Por sinal, ele a dedica, lá no início, às crianças, essas transeuntes da vida, ignorantes a serem devoradas como os personagens canibaizinhos.

MEDEIROS, Sérgio. O Desencontro dos Canibais. São Paulo, SP: Iluminuras, 2013.


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