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O Enigma de Zaki
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RESENHA

Por Rosilene de Fátima Koscianski da Silveira
Doutora em Educação – PPGE/UFSC
2020

O Enigma de Zaki, livro da escritora e educadora Sissa Moroso, foi publicado em 2020, pela Editora Becalete, de Mogi Guaçu, SP.  É um livro com formato quadrangular medindo 22,5 x 22,5 cm, capa em alto brilho e miolo de 32 páginas, não numeradas, editadas em papel couché.  A folha de rosto traz as informações de autoria, título do livro e da editora. A ficha técnica com os dados catalográficos está na página seguinte e a biografia com foto da autora ao final do livro.

  O protagonista é Zaki. Ele está na capa e passeia em dez das doze páginas ilustradas por Camila Nazário, com a beleza negra destacada nos traços, nas cores e nos movimentos.  A ilustração ajuda a contar a história. A capa apresenta a metade do seu rosto retratando a vivacidade de um olhar que carrega, simultaneamente, as agruras de uma vida de pobreza, na qual “a venda dos milhos era a única fonte de renda” (MOROSO, 2020, [s.p.]), e a disposição de lutar por seus sonhos. Um deles era o sonho de se casar com a princesa Záila, pois, “por ela sempre fora apaixonado”.

  “Era uma vez, um moço chamado Zaki. Ele morava na cidade de Tamale, no país de Gana, que fica no norte do Continente Africano” (MOROSO, 2020, [s.p.]). Aqui, em parte, a ficção e a realidade dialogam, o espaço geográfico da narrativa é verdadeiro, o leitor pode situar no mapa a cidade, o país e o Continente Africano, mais que isso, pode se sentir convidado a conhecer melhor esta cidade, este país republicano, o continente e o povo que ali habita. A vida de Zaki é ocupada com a ajuda à sua mãe na plantação de milho no vilarejo onde mora com ela e a venda da pequena produção.

  Zaki faz a venda do milho de carroça. Numa das idas e vindas ele percebe um cartaz afixado num baobá e lê a mensagem escrita: “O Rei de Gana quer casar sua única filha, a princesa Záila. O jovem que falar um enigma e o rei não acertar, poderá se casar com a princesa. Mas, caso contrário, o rei mandará cortar a cabeça do rapaz, que não foi inteligente o suficiente, para lhe dizer um enigma indecifrável” (MOROSO, 2020, [s.p.]). Percebeu que era a chance que ele tanto esperava. Zaki segue depressa para casa, estava decidido, iria levar um enigma indecifrável ao rei e se casaria com a princesa. Mas, quem não gostou nada da história foi sua mãe, que quis saber qual era o enigma que o filho falaria ao rei. Zaki ainda não sabia, o enigma seria formulado no caminho, enquanto se dirigia ao palácio, afinal levaria dois dias andando pela savana, passaria pela floresta africana, até chegar ao deserto e, finalmente ao palácio. Assim planejou e assim fez. Antes do sol nascer ele partiu.

  Os acontecimentos no caminho de Zaki ao encontro do rei vão ajudá-lo a elaborar o enigma, que começa com “_ O PÃO MATOU PITA. PITA MATOU SETE. E DOS SETE ESCOLHI O MELHOR” (MOROSO, 2020, [s.p.]) e se amplia ao longo da trajetória. O desfecho ocorre depois de muitas aventuras para o inteligente e decidido pretendente à mão da princesa.

  O Enigma de Zaki  faz o reconto de uma narrativa da tradição oral popular com elementos do conto de fadas que convidam o leitor a torcer por um  “foram felizes para sempre”  como final.  Sissa Moroso revela que esta não  é propriamente uma nova história, mas o reconto com a reinvenção das personagens de uma narrativa que ela ouviu muitas vezes, pela voz do seu avô materno ao redor do fogão de lenha, na sua infância vivida no sul de Santa Catarina. Por que Sissa Moroso quis contar esta história e por que a recriou com um protagonista africano? A criação das personagens negras visa a construção de uma narrativa propositiva com a desconstrução do olhar subalternizado atribuídos aos povos negros. O livro enquanto objeto cultural se faz instrumento intencional que quer/vai dialogar com os meninos e meninas potencializando, na prática educativa, a reflexão acerca da diversidade e reconhecendo a contribuição dos povos africanos na formação da cultura brasileira.

  A autora é também Coordenadora Pedagógica de uma escola da rede pública e a reconhece como “um espaço privilegiado, onde podemos discutir as questões de preconceito, contribuindo efetivamente para um novo paradigma educacional, no qual podemos educar para transformar as relações étnico-raciais” (MOROSO, 2020b, p. 1). Assim, com a publicação de O enigma de Zaki, elaborou dois projetos de leitura, um para ser trabalhado com professores e outro para ser desenvolvido com alunos.  Em seus projetos de leitura, ela destaca que: “O Brasil concentra o maior continente negro fora da África, a chamada diáspora africana. O racismo no país está presente nas instituições públicas e privadas, e age de forma silenciosa e sutil.” (MOROSO, 2020b, p. 1). Como educadora, se propõe a “identificar na prática pedagógica o preconceito, que se materializa através de um conjunto de valores e crenças estereotipadas que levam um indivíduo ou um grupo a alimentar opiniões negativas a respeito de outro, com base em informações incorretas, incompletas ou por ideias preconcebidas” (MOROSO, 2020b, p. 1). A literatura infantil e juvenil é sua grande aliada nessa tarefa.

  Sissa Moroso (2020) explicita o objetivo maior da criação de suas personagens africanas. Refiro-me aqui, especialmente, a Zaki e a Princesa Záila. Ela afirma que, com a “sua” história, quer “mostrar o universo cultural das tradições africanas, que são tão próximas da nossa ancestralidade e tão desconhecidas para nós brasileiros” e, assim, trazer para a roda de contação, não apenas mais uma história de princesa, mas, sobretudo, uma história que levará os leitores à África e ao encontro de reis e princesas africanas, contemplando suas belezas. Recomendo a leitura e a apreciação da narrativa, de suas imagens, juntando-me ao grupo e ao espaço-tempo de uma humanidade multicultural, multirracial, bela e amorosa.

REFERÊNCIAS

MOROSO, Sissa.  O enigma de Zaki. Il: Camila Nazário. Mogi Guaçu: Becalete, 2020


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