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Recordações de um agente secreto
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RESENHA

por Eliane Debus
Professora MEN/PPGE/CED -UFSC
2012

A estrutura narrativa de Recordações De Um Agente Secreto se concretiza pelo registro diário dos acontecimentos vividos pelo personagem-narrador João Oscar, um garoto de 12 anos. O recurso técnico do diário, utilizado na construção da trama, aproxima dois polos, o textual e o extratextual. Literariamente, segue uma estratégia muito utilizada nas narrativas policiais, gênero em que a trama está inserida, e, no aspecto extratextual, liga-se a uma atividade comum aos jovens da década de 1970, substituída, nos dias de hoje, pelos tamblers e facebooks.

Escrito pela catarinense Maria de Lourdes Krieger, a narrativa é ambientada na cidade de Brusque, interior do Estado de Santa Catarina, e o narrador autodiegético vai apresentando os costumes sociais e culturais da comunidade. O espaço temporal da narrativa obedece a uma sequência linear de l6 de junho, domingo, a l0 de julho, quarta-feira. A narração, contudo, é intercalada pelo registro dos acontecimentos ocorridos no dia em que o personagem escreve, por meio de cortes e montagens; não segue um sequência rígida, remetendo a fatos passados bem antes do dia em questão.

As reflexões de João Oscar, comum aos adolescentes, aproxima o leitor da narrativa, como a chateação de domingo, o outro eu: 

Existirá no mundo, em qualquer parte do mundo, alguém como eu, envolto em trama semelhante? Existirá alguém com mesma idade e feições, igualzinho a mim? Sempre achei que há um outro eu, outra pessoa que nem a gente. Cada homem, mulher e criança tem um homem, mulher e criança que é do mesmo jeito e feitio, com igual nome e que faz as mesmas coisas, noutra parte do mundo que é tal e qual esta parte do mundo em que vivemos- ou noutro mundo, imagem fiel deste.(KRIEGER, 1992, p.75)

O texto também trabalha a relação conflituosa entre adolescente e adulto, na representação da incompreensão dos pais de João Oscar, que não dão crédito, no primeiro momento, às suas suspeitas.

Em linguagem coloquial, ágil e bem-humorada, o narrador também apresenta palavras que, para ele, têm responsabilidade: palavras novas que insere em seu vocabulário.

A relação ficcional e real é estabelecida pela personagem, que remete a sua história “real” ao contexto fictício do cinema. A narrativa mistura dois crimes: o sumiço do valioso selo olho de boi e o assalto tramado pelos bandidos. O enigma das mensagens em código, utilizadas pelos criminosos, é desvendado, em conjunto, pela família de João Oscar, quando este propõe um desafio: desvendar o código utilizado pelos bandidos de um romance policial. A mãe descobre: é o anagrama. Diante da estranheza de Bia (irmã de João Oscar), o pai explica: “É a formação de palavras pela troca de letras, da mesma palavra ou de outras.”(KRIEGER, 1992, p.89)  

A trama policial é inserida em pequenas doses, sujeita às observações do narrador frente a acontecimentos não rotineiros e a sua prática cotidiana, pequenas pistas, ora verdadeiras ora falsas, que o narrador vai relacionando para desvendar o mistério do roubo do selo olho de boi e o possível assalto. A retenção das informações retarda o acesso ao desvelamento do crime. 


Referência

DEBUS, Eliane S. D. Entre vozes e leituras. Florianópolis: UFSC, 1996 (Dissertação de Mestrado/PPGL/UFSC).

KRIEGER, Maria de Lourdes. Recordações de Um Agente Secreto. Il. Leonardo Menna Barreto Gomes. 8.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1992.


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